DIÁRIO DE CAMPO

 

O estereótipo da mulher brasileira no exterior é conhecido: morena, lábios carnudos, quadril largo, voz sexy e, o mais importante, puta. Pois é, essa agora sou eu. Travestido e sem pudor algum, entrei no Brazil Cupid, um site de relacionamentos entre gringos e brasileiras. Sou uma estudante de 24 anos, do Rio de Janeiro, interessada em amizade – ou algo mais, quem sabe – com homens de 25 a 55.

 

 

A tarefa de buscar as fotos foi complicada. Pedi a algumas amigas. Sabe-se lá porque nenhuma delas aceitou ter sua imagem vinculada a uma brasileira em busca de estrangeiros experientes... Apelei para o Orkut. Queria alguma coisa bem clichê, que dissesse “sou inteligente, mas tô facinha”. Achei a mulher perfeita na comunidade “Eu tenho bunda grande”. Que tipo de mulher entra numa comunidade dessas? Talvez o mesmo tipo que coloque fotos de camisola e com uma calcinha disfarçada de short. Perfeito. Se a conversa esquentar, já tenho material para enviar pros meus futuros amigos estrangeiros.

 

 

Achei engraçado o site não permitir o upload de fotos onde não apareça claramente o rosto. Uma boa maneira de impedir putaria explícita.

 

Já recebi um email. É de um negão francês, que fala todas as línguas do mundo, tem 3 metros de altura, é rico, pratica esportes, se alimenta bem e tem todas as qualidades possíveis a um ser humano. Realmente, deve ser difícil para uma pessoa assim achar um parceiro no dia a dia... Mesmo desconfiando de se tratar de um vigarista que apenas quer se aproveitar de mim, cliquei em “mostrar interesse”. Vai que é o homem da minha vida, né?

 

Mais difícil que encontrar as fotos foi explicar ao amigo que mora comigo porque eu estava acessando um site de paquera e dando mole para um negão. Ele passou bem na hora que eu tinha aberto as fotos do cara. “É um trabalho, tenho que me infiltrar nesse site com um perfil fake e estudar o comportamento das pessoas.”, disse a ele. Em seguida mostrei minha foto, e fui obrigado a ouvir o comentário: “desse jeito até eu te comia, parceiro.”

 

 

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Já estou infiltrado no BrazilCupid há um mês. As fotos apelativas estão dando certo e os homens estão fazendo fila pra ficar comigo. Mas depois de uns dias com postura de puta e recebendo mensagens sacanas de gringos imundos querendo se dar bem, resolvi dar uma de difícil. Já sofri tanto tentando alguma coisa com garotas complicadas, está na hora de sentir como é fazer um homem praticamente implorar por uma chance.

 

Infelizmente, o primeiro a agir assim foi conterrâneo. Brasileiro não desiste nunca, né? O Luiz que o diga. Na descrição do perfil, um carioca executivo de 49 anos. A primeira mensagem foi aceitável:

 

 

“Nathalia, gostaria de te conhecer... Como ainda não tenho foto (só me cadastrei hoje) posso te enviar por email se quiser. Beijo, Luiz”

 

Resolvi ignorar. Fiquei com medo de ser um coroa todo caído. No dia seguinte, quando as fotos dele foram aprovadas, minhas suspeitas se tornaram reais. Não dá pra não sentir um pouco de nojo imaginando um senhor desses – com certeza com bem mais do que 49 anos – dando em cima de uma gostosa que nem eu.

 

Mas o Luiz não parou por aí. Menos de 24 horas depois, outra mensagem.

 

 

“Por favor, me dá um retorno para nos conhecermos, pode ser? Beijo, Luiz”

 

 

Por favor? Tem que estar muito desesperado para pedir por favor para uma mulher desconhecida em um site de paqueras. Resolvi ficar de olho para ver até onde ia essa obsessão pelas fotos de um fake. A resposta veio dois dias depois, cheia de rancor diante da minha indiferença. Foi a última mensagem do executive carioca.

 

“Nathalia,

 

não posso continuar insistindo com uma mulher que não me responde. Achei você muito bonita e interessante, mas preciso de alguém que queira compartilhar mais coisas comigo. Será que a gente podia trocar algumas palavras?

 

Um beijo, Luiz”

 

 

Não respondi. Mas isso ficou martelando na minha cabeça. Até que ponto as pessoas são capazes de enxergar em um perfil na internet algo importante o suficiente para valer a mínima insistência?

 

 

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Depois de vários pretendentes fracos, encontrei alguém que parecia interessante. E disposto a responder minhas perguntas.          

 

 

“Oi Nathalia como esta vc?? Vi teu perfil e gostei--- vc parece ser mto legal e com certeza linda!! Meu nome e Brian, sou do Texas nos EUA, mora na cidade de Houston. Tb tenho um apartamento no Rio de Janeiro entao agora penso em dividir meu tempo entre ambos paises. Pd ler sobre mim no meu perfil para ter uma ideia de como sou eu, nao te quero aborrecer com mtos detalhes aqui---rsrrs... Sou um cara legal, educado, divertido, e sempre respeito as pessoas. Gostaria de comecar uma amizade com vc, o que tu achas?? Desculpa se vc nao entendeu tudo, e que portugues nao e minha lingua nativa, ainda estou aprendendo e falta muito por aprender. Por favor, entra em contato aqui por correio eletronico ou por msn. por favor, se me for add, me manda um email tambem pq nao sou de ficar online muito, so entro de vez en quando, gostaria de recever teus contatos tambem, incluso teu cel, etc, se desejar. Na seman que vem estarei viajando ao Brasil entao nao vou entrar aqui nem no msn mto pq estarei de viajando quando eu chegar e tambem resolvindo outras coisas. Entao, por favor ME RESPONDE AQUI COM TU MSN E/OU NUMERO DE CEL PARA EU ENTRAR EM CONTATO se desejar, ou me mand um email (correio eletronico) alem de me addicionar no seu msn tambem. Mto obrigado, um prazer em te conhecer aqui! ! bom, ate logo entao.. bye bye, take care bjao de Brian”

 

 

Uau! Um americano do Texas com um apartamento no Rio, bem-humorado e pedindo meu telefone em caixa alta! Ta aí, meu primeiro contato.

 

 

Respondi falando que adoraria conversar com ele. Pensei em passar um número de celular falso. Mas já que é para se infiltrar, que fizesse direito. Passei o meu celular e esperei pra ver se alguém iria realmente ligar. Dois dias depois, um número estranho com o código 001 me ligou. Não atendi, mas como meus amigos estrangeiros se resumem ao continente europeu, suspeitei que fosse o Brian! Confirmei na internet e descobri que o número era americano. Não atendi, já que a minha voz é um pouco grossa demais para a Nathalia...

 

 

No dia seguinte ele me mandou um e-mail falando que tinha tentado me ligar e não conseguiu. Contou que iria vir ao Brasil em agosto e que queria me encontrar. Como a pesquisa no BrazilCupid termina no mês de julho, concordei em dar uma volta com ele. A resposta veio com uma série de perguntas sobre o que eu gostava, meus lugares preferidos na cidade.. Brian parece disposto a me agradar. Quem sabe até agosto alguma das minhas amigas queira conhecer um pretendente norte-americano e eu não repasse meu admirador?

 

 

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Depois de três meses de infiltração, alguns dados chamam a atenção.

 

• Nathalia recebeu cerca de 10 mensagens por semana

• 325 homens clicaram no botão de “mostrar interesse”

• 970 homens visualizaram o perfil

• 91 pretendentes adicionaram Nathalia como um perfil favorito

 

 

Quanto ao tratamento, pensei que fosse ver mais baixaria. Mas o site parece ser levado a sério pelos usuários. Os americanos foram maioria esmagadora nas tentativas de contato. Também foi possível verificar que a maior parcela dos pretendentes tinha mais de 40 anos.

 

 

Apenas sete clientes platinum – nível de perfil mais alto – entraram em contato comigo. Imagino que deem preferência para clientes do mesmo grupo.

 

 

No final das contas, a infiltração foi positiva. O BrazilCupid se mostrou extremamente organizado. Pouca pornografia, perfis amplos e que permitem uma caracterização completa – mesmo que de um fake -, vários níveis de interação entre os usuários, uma tela simples de navegar. É uma das ferramentas de paquera online mais avançadas no mercado, e por isso a rede Cupid tem mais de 20 milhões de usuários espalhados pelo mundo.

 

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