DIÁRIO DE CAMPO

 

Na verdade sempre achei meio estranho pessoas que entravam na internet para encontrar algum tipo de relacionamento, e justamente por isso que eu escolhi falar sobre as motivações delas para chegarem a esse ponto.  Será que é falta de tempo? Desespero? Praticidade? Enfim, existem vários motivos e é sobre isso que eu pesquisei.

 

O meu primeiro passo foi me inscrever num site de paquera. Escolhi o ParPerfeito porque é o mais famoso aqui no Brasil e criei um perfil falso como homem. Usei o apelido Ivo1908 (minha data de nascimento falsa), porque só Ivo já tinha e Ivo Almeida (que seria meu sobrenome), também, comprovando como é grande a quantidade de gente cadastrada. A facilidade de se inscrever é enorme. É impossível alguém que queira entrar no site não conseguir.

 

Achei melhor ser homem porque, na minha opinião, é mais fácil uma mulher querer conversar sobre o porquê de estar ali, procurando um relacionamento, do que homens.     

 

Já na hora de me inscrever achei injusto ter que escolher peso, altura e cor da pele da sua preferência, afinal não tem como saber qual tipo de pessoa que você vai se apaixonar. Também acho esses cadastros meio mentirosos, porque ninguém nunca coloca, por exemplo, que bebe muito ou seus defeitos.

 

Depois de completar a inscrição, você coloca uma foto de rosto (eu coloquei uma falsa, de um cara que eu busquei em “imagens” no Google) e ela tem que ir para aprovação. Você também pode colocar outras fotos sem ser de rosto, mas ai entra na parte de fotos complementares, já que a do perfil é obrigatoriamente de rosto. É engraçado, porque a maioria das mulheres coloca fotos complementares de corpo todo. É provável que elas pensem que, mostrando o corpo, os homens vão se interessar mais.

 

Antes mesmo da sua foto ser aprovada, você já consegue ver quem visualizou seu perfil e quem te colocou como favorito. É impressionante como isso acontece rápido. Mas é claro que depois da foto ser aprovada (o que, no meu caso, aconteceu em menos de 24 horas) as visualizações aumentam muito, já que a foto “chama” mais gente.

 

O site

As pessoas interessadas te mandam mensagens a qualquer momento, mesmo se você não estiver on-line. Ou se você estiver, te chamam para chats “ao vivo”, chamados de VideoChat.

 

Eu achei o formato do ParPerfeito bem interessante para quem realmente quer encontrar alguém, já que você consegue ver quem te “favoritou”, quem te mandou mensagem e pode também fazer uma busca de pessoas que se encaixem no seu perfil (se você tiver um perfil de homem ou mulher específico, é claro).

 

E também fiquei impressionada como foi grande o número de visualizações do meu perfil. Pelo menos cinco pessoas por dia “me viam”. E quase todas as vezes que eu ficava on-line alguém chamava para o VideoChat. Acho que isso é mais uma comprovação de como tem muita gente inscrita nesses sites. Fui apurar, e o próprio site informa que existem 30 milhões (!) de pessoas cadastradas só no Brasil.

                                     

 A pesquisa e a construção da matéria

Ai eu comecei a falar com algumas mulheres. Era engraçado eu tentando falar “coisas de homem”, para o papo evoluir até eu consegui perguntar o motivo de aquela pessoa estar num site de relacionamento, já que eu tinha que fazer essa pergunta (não tão diretamente) porque esse era o meu “tema”.

 

Eu achei muito difícil criar intimidade pelo computador, conversar sobre a vida (ainda mais fingindo ser uma pessoa que eu não era) e talvez por isso eu não tenha conseguido manter contato com muitas mulheres. Todas que eu consegui chegar ao ponto de fazer a pergunta da motivação ficaram meio tímidas e receosas e responderam que o motivo de estarem em um site de namoro era falta de tempo.

 

Outras até falaram que estava faltando homem no mundo e que achavam que pelo site era mais fácil achar alguém, já que, teoricamente, se a pessoa está lá no site é porque quer um relacionamento.

 

Teve uma mulher que eu “investi” mais e consegui conversar mais tempo do que com as outras. O apelido dela era mclara1975, e com ela, eu consegui ter uma conversa mais profunda sobre vários assuntos, inclusive sobre os motivos de entrar no ParPerfeito.

 

Ele respondeu, assim como as outras, que a falta de tempo era o principal motivo.  Mas, depois de conversar várias vezes, ela disse que a falta de homem, a vergonha de “chegar” em um cara na night, a proteção do computador e o conforto também eram fatores importantes para procurar alguém nos sites. Mas o que eu achei mais interessante do que ela disse foi que não importava com quantos homens ela falava pela internet, que ninguém ia chamá-la de “rodada”. Mas, se ela se encontrasse com vários pessoalmente, ia ficar mal falada.

 

A impressão que eu tive das mulheres que eu conversei é que a maioria é muito solitária, e que ,mesmo se elas não conseguirem um namorado e nem um encontro, só o fato de estar conversando com alguém já faz se sentirem melhor. Nenhuma delas disse que o motivo de estarem nos sites é a solidão, tanto que eu nem coloquei na matéria esse fator como motivação, já que o único embasamento para isso era minha percepção. Mas que eu achei que esse era o principal motivo,

eu achei.

 

Também usei depoimentos do próprio site para fazer a matéria. Muitas pessoas deixam palavras de agradecimento e de como o site foi útil pra eles. E claro que também deve ter gente que reclama que não encontrou ninguém, mas é óbvio que eles não publicam.

 

A outra parte da minha matéria foi feita pessoalmente. Eu entrevistei minha tia, que há um ano conheceu seu atual namorado através do ParPerfeito. Para mim essa foi a parte mais legal, já que eu acho muito melhor entrevistar pessoalmente do que por computador, podendo dizer a verdade e ainda por cima com alguém que eu já tinha intimidade.

Eu achei que a entrevista dela e do namorado foi muito enriquecedora para a matéria, já que eles só se conheceram por causa do site, afinal ela mora em Saquarema e ele no Rio de Janeiro, mostrando perfeitamente como o site é útil. E ela disse que entrou no site porque em Saquarema faltava homem. Acho que pode ser verdade, já que nessas cidades pequenas é realmente mais difícil encontrar gente nova ou alguém de fora do circulo de amigos.