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PARA GORDINHOS

AVATAR

 

Nome: Ricardo Meirelles

 

Apelido: Rick

 

E-mail: rickmeirelles0@hotmail.com

 

Nascimento: 20/03/1981 – 30 anos – Áries

Rio de Janeiro – RJ – Brasil

 

Perfil: Sou um publicitário gordinho a procura de uma gordinha que seja feliz e companheira.

 

Perfil completo: Sou publicitário formado e feliz com meu trabalho, família e amigos. Porém, procura uma pessoa para dividir comigo minhas alegrias e estar comigo nos momentos ruins. Sou gordinho, sou feliz assim e procuro uma gordinha também feliz e que seja companheira.

DIÁRIO DE CAMPO
 

Comecei a utilizar o site Kaakau de paquera para gordinhos. Ao criar o perfil passei por várias etapas que achei curiosas. Primeiro: você não precisa necessariamente ser gordinho, existe até a opção de ser musculoso... as pessoas estão lá para conhecer gordinhos. Outra etapa diferente é que existem várias perguntas sobre comida (que tipo de cozinha você gosta, o que come diariamente) que são inexistentes em outros sites. Pelas fotos dos perfis dá pra perceber que a maioria é cheinho, mas também existem magros (ou que pelo menos em fotos parecem).

 

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Primeiras visitas ao perfil e primeiro recado da Camila (“passei só pra oi, bjus”). Ela foi uma das pessoas com quem eu mais pude conversar ao longo do tempo, mas pouca informação me passou. Parecia muito tímida e insegura.

 

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Adicionei a Camila no MSN depois de alguns recados enviados pelo site e comecei a conversar com ela. Ainda tímida, me contou algumas coisas da vida. Tudo muito superficial, pude perceber que ela desejava muito um namorado mas que tinha vergonha de sair pelas noites e bares cariocas porque não era do tipo de mulher que a sociedade pregava que era bonita. Chegou a confessar que tinha vergonha de comer em público porque sabia que sempre geraria brincadeirinhas do tipo “nossa, como você come” ou “vai comer só isso?”. Quando precisei sair, e por conseqüência fui finalizando a conversa, vi que ela tinha ficado muito feliz de conversar com alguém novo e percebido que essa pessoa tinha gostado dela como ela era. Vi que ali era um dos poucos lugares onde ela se sentia bem. Não sei se por ter um computador entre nós ou por estar em um ambiente em que ela sabia que eram todos como ela, Camila se sentiu confortável para falar coisas que acho muito difícil que ela falaria se fosse pessoalmente.

 

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Conheci a personagem principal da minha pesquisa. Bia foi a responsável por quase tudo que consegui apurar para a matéria. Falante e extrovertida, ficamos grandes amigos. Em comum com a Camila, Bia também disse que estava lá porque se sentia entendida. Explico: ela confessou que escolheu sua melhor foto e para isso não precisou mentir nada. Ficou feliz porque, assim que entrou, teve muitos recados e convites para amizade. Diferente de como acontece no dia a dia, Bia afirmou que não sofreu preconceitos. Mesmo sendo ainda um site pouco conhecido, ela disse que “a variedade de estilos e perfis é enorme e dá pra escolher o que mais se adequa com a gente”.

 

Depois de muita conversa, ela contou suas preferências. Disse que adora sair para dançar e para comer um bom prato em algum restaurante. Mas confessou, um pouco triste, que atualmente, depois de engordar um pouquinho, ela se sente desconfortável ao sair e encontrar milhões de “piriguetes com vestido colado e quase que com a bunda aparecendo”. Além de se sentir mal em comer em público.

Mas depois, com muito bom humor, disse que já tá perdendo essa vergonha e sabe que precisa se amar mais do que tudo e entender que se, ela não se sentir segura e linda, ninguém mais vai achar.

 

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Depois de muito tempo sem entrar no site por causa da falta de tempo, vi que tinha recebido o convite da Andrea. Preferi não aceitar pois não teria tempo de conversar direito e achei que tinha conseguido um bom levantamento com a Bia.

 

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Continuei falando com a Bia pelo MSN ,mas com poucas novidades. Vi que tínhamos nos tornado “amigos e comecei a ficar chateada em ter que parar do nada de falar com ela. Preferi ir largando um pouco de mão e entrar só de vez em quando. Porém, quando eu entrava, ela já vinha dizendo que estava com saudades e que adorava conversar comigo, que se sentia confortável. Tentei desconversar e fiquei off-line.

 

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Ao entrar no MSN, já tinha decidido na minha cabeça que iria abrir o jogo com a Bia no que seria nosso último encontro virtual. Comecei perguntando como ela se sentia ao conversar e ficar confortável com alguém que ela nunca tinha visto. Ela afirmou que realmente era estranho mas que ela já havia se acostumado e que, assim como eu, ela já tinha conquistado vários amigos. Confesso que ao ver ela me chamando de amigo, fiquei um pouco ressabiado se deveria ou não abrir o jogo. Terminei minha pesquisa mas ainda pretendo encerrar minha conversa com ela e de uma forma amigável explicar que não haveria mais nada entre nós.

 

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Fiquei impressionada em como as pessoas mantêm uma relação saudável conversando por um site de relacionamento. Sem nunca ter se visto ou ouvido a voz do outro, sem saber se a pessoa é realmente aquilo que ela diz ser no seu perfil. O Kaakau ainda é pequeno quando comparado aos outros sites mas dá para perceber que ele conseguiu unir uma parcela significativa da população que, a exemplo da Camila e da Bia, tem vergonha de se expor por medo do julgamento da sociedade. Após quase dois meses de pesquisa, percebi que isso também pode contribuir muito para que essas pessoas se fechem mais ainda dentro de si. Mas, se conseguir que pelo menos uma parcela saia do ambiente virtual para o real, o Kaakau já terá conquistado seu objetivo.

 

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